11º dia em Cuba - 31/01/2011



Como estava na programação que iríamos três vezes trabalhar pela manhã em campos agrícolas e assim aprender com os trabalhadores como funciona a reforma agrária sempre constante em Cuba, hoje fomos pela segunda vez. Nessa ocasião o coordenador geral da Brigada foi dividindo as cerca de 150 pessoas que estavam presentes. Algumas ficaram nas plantações entorno do acampamento que da a sustentabilidade para alimentação do local e outras foram trabalhar em outro campo, cerca de 10 minutos de carro até lá.

Até o veículo de transporte foi o mesmo dos trabalhadores, para sentirmos bem na pele o que passam e mostrando o caráter sério da Brigada em mostrar a realidade do dia a dia. No Brasil o famoso pau de arara, mas eu diria bem mais moderno, já que é bem mais alto e dificilmente alguém cai, conosco foi tranqüilo todos nós presentes gostamos da experiência. Chegando lá havia caminhões despejando terras para plantação, e adivinhem quem fez a aragem da terra? Essa foi a missão passada para os brigadistas nesse dia e assim ficamos das 7h até 12h.
Esperando a saída do caminhão que nos levava para o campo agrícola


Após o almoço e um tempinho para tomar banho e descansa fomos visitar a Escola Latino-americana de Medicina (ELAM). Infelizmente era tempo de férias e não havia muita movimentação, apenas alguns estudantes fazendo esportes ou indo até a biblioteca para estudar. Ali aprendi que antes de se tornar uma faculdade internacional o local era uma base militar e com os furacões de 1998 que devastaram os países principalmente caribenhos, Fidel Castro aprovou a idéia de fazer uma universidade de medicina para ensinar quem não tem condições de pagar e depois de formado voltam ao seu país de origem para ajudar a população. E assim é até hoje com participação de estudantes de 116 países latino americanos, Estados Unidos, África, Ásia e Oceania.
Fachada da ELAM


Isso mostra mais uma vez que a Revolução cubana não acabou com a chegada de Fidel a Havana, mas que estará em constante transformação e por isso os cubanos tem os mais altos índices sociais da América Latina. Cuba é um país que exporta médicos enquanto a maioria exporta soldados e mercenários. Atualmente os colaboradores cubanos estão em 73 países ajudando em missões médicas. No Haiti, por exemplo, estão centenas de médicos e enfermeiras de Cuba salvando vidas desde terremoto de 2010, mas sequer foi notícia de rodapé do jornal.

Pela noite assistimos o documentário norte americano “De pueblo a pueblo” , onde mostra uma caravana que percorre todo o território dos Estados Unidos tentando conscientizar as pessoas sobre Cuba, o bloqueio, os cinco heróis, etc. O que me chamou a atenção foi o número de jovens norte americanos engajados nesse movimento e que usando algumas tradições culturais modernas dos adolescentes conseguem abrir uma linha de dialogo com eles, através do hip hop e grafite, por exemplo.

10º dia em Cuba - 30/01/2011



Hoje ficamos livres pela cidade e depois de uma semana sem se comunicar com minha família, consegui enviar e-mail’s e espero que tudo de certo. No hotel que usamos a internet, o funcionário perguntou de onde éramos e na conversa disse ser fã de rock e que o Cavalera Conspiracy, banda de rock dos irmãos Cavalera, há pouco tempo atrás tinha feito uma apresentação em Cuba, o que me deixou surpreso e contente.

Na volta para o acampamento um casal brasileiro que também estava na brigada contou que pegaram ônibus e ficaram surpresos porque não precisaram pagar. O coordenador cubano da brigada, Yobel, interveio e disse que isso é falta de consciência social, não pagar pelo transporte público que custa apenas 40 centavos de pesos cubanos (1 peso cubano é menos que 20 centavos de reais). E que esse problema é um dos principais que enfrenta a Ilha, causado pelo paternalismo desses mais de 50 anos de Revolução onde o povo acostumou a ter tudo de graça.
A passagem custa 40 centavos de pesos cubanos, menos de 20 centavos de reais e não é obrigado a pagar
  Yobel ainda nos contou que no começo dos anos 2000 houve a Revolução Energética onde foi feito um censo em todo o território cubano e foram distribuídas novas geladeiras e panelas elétricas para todas as famílias que em troca pagariam uma taxa pequena pelos novos bens. Foi preciso trocar as geladeiras, pois as antigas estavam consumindo muita energia, além de serem velhas. Os novos eletrodomésticos foram importados da China. Mas muitos cidadãos não pagaram e mesmo assim o governo não pegou de volta. Os CDR’s tiveram a missão pela distribuição e tentavam convencer as pessoas a pagarem. As taxas não chegavam há 100 pesos por mês e seriam pagas durante dois anos.

Ainda na Revolução Energética, foram construídas diversas usinas de geração de energia pela queima de lixo. Por isso hoje não há mais apagões em Cuba e sem aterros sanitários ajudam o meio ambiente. Todo o lixo é levado para as usinas espalhadas pelo país e assim não precisam de aterro, já que todo lixo será incinerado e com o gás é gerado a energia. 

Central Elétrica Ariguanabo, próximo a Havana, construído graças a Revolução Energética
 Para Yobel falta essa consciência de que todos devem contribuir para a Revolução melhorar. Hoje, luz, água e telefone são cobrados por consumo, pois havia desperdício e muitos dormiam até com as luzes ligadas. Mesmo com o novo modo de tarifar, as taxas ainda são baixas, até para quem gosta de abusar. Desde os anos 1990 percebendo esse paternalismo nas novas gerações e conseqüentemente um desanimo para estudar e trabalhar, o governo criou projetos para jovens que entram direto do colégio para faculdade em que os estudantes ganham 150 pesos por mês para continuarem na carreira acadêmica, lembrando que já é de graça. Ainda para o cubano, comparado com o restante do mundo as novas gerações não percebem essas regalias.