Pela manhã fomos numa rua no bairro Vedado que passou por
uma transformação e se tornou um ponto turístico. A Callejon de Hamel é
uma rua repleta de graffitis e obras com materiais recicláveis, ressaltando a
cultura afro-cubana. Assistimos a uma apresentação de rumba e apreciamos a
beleza do local. O lugar fica lotado aos domingos, dia que fomos, por conta das
apresentações de rumba. Tudo começou nos anos 1990, quando um vizinho pediu
para Salvador Gonzáles Escalona, idealizador do projeto, pintar a fachada de
sua casa. Dali por diante todo o bairro passaria por uma transformação
artística inspirada na cultura africana.
Aos domingos o lugar fica completamente cheio para acompanhar os shows de rumba |
Após, almoçamos no restaurante Fantasia, um excelente
paladar (restaurante) cubano onde se come muito e barato. Paguei 2 CUC (U$) num
prato com congri, frango, salada, batata, cenoura e banana frita. A quantidade
era tanta que estávamos em quatro pessoas (eu, Paty, Café e Marcella) e as duas
meninas conosco não conseguiram comer tudo. O garçom do local nos perguntou
todo sem graça se elas não tinham gostado, mas as meninas explicaram que elas
não comem muito, por isso sobrou tanto. O amigo cubano contou que o restaurante
atende muitos cubanos e para eles a quantia no prato tem que ser bastante, pois
são bons de garfo.
Muros e até os postes viram obras de artes a céu aberto |
Voltamos caminhando e paramos numa praça com Wi-Fi. Desde a
primeira vez que vim (em 2011) essa foi a principal mudança que reparei. Muitas
pessoas passam horas por dia nessas praças navegando na internet pelo celular. Também
tem muitas lojas novas trazendo mais opções de marcas de roupas,
eletrodomésticos, produtos de beleza, limpeza, etc. Assim como há novos restaurantes,
mais modernos, bonitos e que são frequentados tanto por cubanos quanto por
turistas, como El Cubanito e Galya Café.
No restaurante Galya Café tomando o tradicional refrigerante de cola cubano. Local novo, ótima comida e preços em conta |
No caminho visitamos uma escola que estava nos últimos
preparativos para receber os alunos de volta ao ano escolar a partir do dia 7
de janeiro. Colégio muito simples, arquitetura antiga, mas preservada. A grade
de programação dos alunos me chamou a atenção. O período escolar é integral, ou
seja, as crianças passam o dia inteiro na escola. Recebem alimentação de manhã
e a tarde e tem até hora da soneca para os menores. A educação em Cuba é
prioridade para todos, por isso tem altos índices escolares e nenhuma criança
fora da escola.
Grade curricular de um colégio cubano |
Passamos em frente a um prédio da assistência social para famílias
cubanas. Um serviço importante que oferece comida e abrigo para aqueles que
mais precisam. Assim o povo cubano vive com mais dignidade que nós brasileiros. Tanto em 2011 quanto em 2019 não vi uma família sequer
dormindo nas ruas. Cuba é um país pobre, mas oferece o mínimo para as pessoas
viverem, além de não ter violência e oferecer oportunidades iguais para os
cidadãos se desenvolverem física e intelectualmente.
A noite tomamos uma torre de cerveja na Plaza Vieja e
voltamos à casa, mas antes de dormir ainda paramos no boteco “Casa Grande” que
fica quase em frente aonde estava hospedado para conversar com cubanos e tomar
mais alguns drinks.
Bar "Casa Grande", na esquina da rua onde fiquei hospedado |
Conversei muito com o Jorgito, vulgo El Crocodillo, que
ficou surpreso ao contarmos como é a violência no Brasil. Ele então pediu a
palavra e disse que em Cuba isso também acontece. Eu e Café ficamos preocupados
e atentos às suas palavras. “Será que escondem a violência em Cuba de nós?”,
pensamos.
Ele contou que no centro de Havana, nos lugares com mais
turistas a segurança é reforçada, porém em alguns lugares se você estiver com
uma correntinha de ouro por exemplo deve-se tomar cuidado para não ser furtado.
Então perguntamos quantas vezes isso acontece por ano e a resposta foi que
ocorrem no máximo 3 furtos por ano, sem uso de armas brancas ou de fogo, pois o
mais perigoso é sair na mão com o criminoso.
Quando Jorgito falou isso ficou clara a diferença da sociedade cubana e brasileira. O brasileiro prefere viver um falso luxo do capitalismo, enquanto os cubanos gozam da tranquilidade da vida socialista.
Quando Jorgito falou isso ficou clara a diferença da sociedade cubana e brasileira. O brasileiro prefere viver um falso luxo do capitalismo, enquanto os cubanos gozam da tranquilidade da vida socialista.
Jorgito explicou que após a morte de Fidel houve um aumento
significante de turistas, o que lhe preocupa, pois Cuba tem poucos recursos
materiais e o turismo acaba sendo prioridade, fazendo com que as reformas de
ruas e imóveis demorem mais para acontecer. Conheci também uma cubana que estava
muito triste se lamentando, pois foi traída pelo marido depois de 8 anos de
relacionamento. Ela estava toda vestida de branco e passando por uma fase de
Oboay que faz parte de um dos rituais da Santeria, religião afro-cubana.
Casa Grande funciona 24h por dia, o autêntico boteco cubano |
Assim como em outros lugares, os cubanos não querem mudar o
sistema, mas gostariam que os salários fossem mais altos, pois as ofertas em
Cuba estão crescendo, mas os salários permanecem baixos. O que faz do turismo
um papel importante nesse processo, pois enquanto o bloqueio continuar, essa é
a melhor forma das famílias levantarem uma grana e comprarem produtos
tecnológicos, como celular e acesso à internet.
Obs:
meses depois da minha viagem o governo cubano anunciou o aumento no salário dos
trabalhadores. A média salarial saltou de 600 pesos cubanos
para 1600 pesos, sendo o menor salário de 400 pesos e o maior de 3000 pesos.
Por exemplo: um professor que ganhava 555 pesos passa a ganhar mais de 1400. Um
jornalista que ganhava 385 pesos vai ganhar mais de 1300 pesos.Veja no vídeo abaixo o pronunciamento do presidente de Cuba sobre os novos vencimentos.
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